Desistindo da dúvida

Uma crônica sobre a compreensão de que sinais confusos são, na verdade, um não disfarçado. Aceitar isso é se libertar do peso que nos prende.

Crônica

As noites têm sido longas, e os dias, cheios de pensamentos soltos. Encontrei uma mulher, linda, inteligente, divertida. Ela tem um sorriso que poderia iluminar qualquer quarto escuro e uma conversa que flui como um rio sem pedras. Mas há algo nela, uma parede invisível que não consigo escalar.

Saímos algumas vezes. Rimos, bebemos e compartilhamos histórias. A química está lá, palpável. Mas quando a noite se aprofunda e a intimidade deveria tomar seu lugar, ela recua. Tentativas sutis encontraram barreiras invisíveis. Toques hesitantes foram desviados. O silêncio falou mais alto do que qualquer palavra poderia.

Comecei a questionar se o problema era comigo. Talvez ela não me ache atraente. Talvez haja fantasmas do passado assombrando seus passos. Mas ela não diz, e eu não pergunto mais. Cansei de caminhar em círculos, de decifrar sinais que não levam a lugar algum.

Li uma frase que dizia: “Aceite os sinais confusos como um não, porque o sim é claro como o dia”. Fez sentido. O “sim” não se esconde atrás de desculpas ou atrasos. O “sim” é imediato, quente, inegável. E eu estava me agarrando a talvez, a quem sabe, a possibilidades remotas.

Percebi que estava investindo sentimentos em um poço sem fundo. Não devemos gostar de alguém apenas pelo que sentimos por essa pessoa, mas pelo que ela nos faz sentir. E ela, apesar de toda a beleza e conversa fácil, me deixava confuso, incerto, preso em um limbo emocional.

Então, decidi parar de esperar por um trem que não vai chegar. Levantei-me, deixei um último olhar e segui meu caminho. Não há sentido em forçar portas que não querem se abrir. A vida é curta demais para esperar por respostas que já sabemos.

Caminhei pelas ruas iluminadas pela lua, sentindo o ar fresco da noite. Há um certo alívio em aceitar a realidade, em deixar para trás o peso da indecisão. O mundo é vasto, cheio de possibilidades claras, de “sim” ditos sem hesitação.

No fim, aprendi que respeitar a si mesmo é o primeiro passo para encontrar o que realmente buscamos. E que às vezes, deixar ir é a melhor forma de seguir em frente.