Você sabe, aos quarenta, o mundo não te assusta como antes. Tem algo cru e real nessa idade, não é a brisa da juventude nem o peso da velhice. A vida já te ensinou com seus altos e baixos que tanto a alegria quanto a tristeza são parte da jornada. Não se trata de correr contra o tempo, mas de caminhar com ele, saboreando cada momento. É a idade do equilíbrio. Aos quarenta, você começa a viver de verdade.
Nesse ponto da viagem, nos tornamos os capitães de nossos próprios navios. Fisicamente ainda temos gás, financeiramente as coisas não estão ruins, e a mente, bem, a mente funciona com uma inteligência refinada, eliminando muito da tolice que nos perseguiu na juventude. Nos tornamos ponderados, mais seguros em nossos passos, mas sem perder aquele brilho nos olhos. Conhecemos as regras do jogo e sabemos como jogar.
Falo com os meus amigos que aos quarenta é como chegar ao topo da montanha e, a partir daí, é tudo ladeira abaixo, com um carro desgovernado e sem freio. Mas isso é conversa fiada, um sorriso irônico diante do espelho do tempo. A verdade, essa companheira crua e sem adornos, é que ainda há estrada para percorrer, paisagens para admirar. E o melhor de tudo é que agora, com o vento batendo no rosto e o mapa da vida no bolso, sabemos como conduzir esse carro, sabemos como saborear cada curva, cada reta, cada descida.
A essa altura, já pegamos o jeito de discernir nossos desejos, mas, veja bem, o pulo do gato não é saber o que se quer, mas sim o que se recusa a aceitar. E essa clareza, meu amigo, é rara como um bom dia sem ressaca. Neste ponto da jornada, a cabeça aprendeu a tomar as rédeas, controlando o caos do coração. Claro, uma mulher incrível ainda pode me fazer sentir como um moleque recebendo sua primeira guitarra, mas o frenesi logo se acalma. Esse é o jogo da experiência, é a velha sabedoria forjada em erros e acertos, nos tornando mais equilibrado.
Talvez você esteja imaginando, esse cara deve ser frio como o concreto de uma calçada em uma madrugada de inverno. Mas é o contrário. A vivência, a maturidade, nos ensina a ser sensíveis sem sermos frágeis. A mostrar carinho sem ser pegajoso, a ter classe e refino sem ser pretensioso. Não é que eu me tornei um bloco de gelo, só aprendi quando e como deixar o sol me derreter.
Se os quarenta anos fossem uma melodia, teriam o som imprevisível do jazz. Cada nota carrega uma cicatriz, um sorriso ou um fantasma. A loucura do ritmo pode lembrar a juventude desenfreada, aquela fase de correr sem olhar, enquanto as partes mais calmas, mais amargas, soam como o olhar do homem que já viu demais. E assim como o jazz se reinventa a cada apresentação, o homem de quarenta anos redescobre a si mesmo, descobrindo novas belezas e tristezas nas sombras da vida, com uma habilidade para improvisar que só vem com os anos de existência.
E se fosse uma bebida? Ah, aí seria uísque, sem dúvida. Um gole é um mergulho na história, nas décadas que aquela bebida levou para se tornar ela mesma, envelhecendo em barris e absorvendo a essência da madeira. Olhar para um homem de quarenta é como olhar para um copo daquela bebida: vê-se a idade, sim, mas também as marcas, os anos, as derrotas e vitórias que o fizeram. Uísque e homem, cada um destilando o próprio tempo, cada um uma celebração das batalhas, das perdas, dos ganhos, da complexidade e do sabor que só os anos podem dar.
Talvez essa ladainha não sirva pra todo quarentão, talvez você não entenda nada de jazz ou vire o nariz para o uísque. Se for esse o caso, sugiro dar uma olhada no espelho e questionar alguns caminhos. Um brinde aos quarenta, companheiros de jornada. O copo está erguido, o disco está tocando, e o que quer que os cinquenta me reservem, estou aqui, esperando para ver o que essa nova década tem nas mangas para me jogar na cara.