Um olhar estoico (parte 1)

Nas trincheiras da existência, onde o caos ruge, o estoicismo brilha, resistente, um escudo que nos ampara contra as ondas brutais da incerteza.

Filosofia

Lá está você, sentado no sofá com uma xícara de café na mão, olhando para esse velho mundo através da janela. A chuva cai suavemente, uma garoa infindável, e você se pergunta: 'O que, de fato, realmente importa? O que posso eu fazer nessa imensidão, quando me sinto tão insignificante?

Assim como Epicteto certa vez disse, "Não são os eventos em si que nos perturbam, mas sim nossas percepções acerca deles". Então, por que não apreciar o seu café enquanto ele permanece aquecido?

A brisa suave arranca folhas soltas das árvores, levando-as numa dança caótica, que insiste em desenhar padrões aleatórios na paisagem cinzenta. O mundo fora de sua janela não se curva à sua vontade, nem deveria. Ele move-se num ritmo próprio, um baile de forças além do seu controle, tão desordenado quanto a sinfonia das gotas de chuva ao atingirem o vidro. Na realidade, a sua impotência frente a isso é uma dádiva disfarçada, libertando-o do peso de se preocupar com o incontrolável.

A verdade é que a vida é um caos imprevisível, repleto de melodias que se misturam em um canto frenético. Mas entre essa cacofonia, existe o seu momento de paz, personificado no café que descansa entre suas mãos. Isso, você pode controlar. Isso, você pode saborear. Aproveite o sabor amargo, deixe-o ser um lembrete de que, em meio ao caos, você encontrou o seu porto. As coisas grandiosas não são medidas pela sua magnitude, mas pela profundidade que alcançam dentro de nós. E agora, neste exato momento, o universo inteiro cabe na sua xícara de café.

Essa introdução é para dizer que vamos falar sobre o estoicismo. Uma filosofia antiga que pode dar a todos nós algumas lições sobre como lidar com a porcaria que a vida joga em nós. Primeira regra do jogo: aceite o que você não pode controlar. O mundo, o clima, as ações dos outros... Você não pode fazer nada sobre eles. Mas seus próprios pensamentos, ações, sentimentos? Ah, eles são seus.

Não estou sugerindo que você se torne passivo ou resignado. Lutar é uma parte importante da vida. Mas, meus amigos, escolher as suas batalhas com sabedoria é uma arte. Lute contra o que está ao seu alcance, e aprenda a aceitar o resto com a serenidade de um monge zen.

Olhe para o mundo com olhos de estóico. Veja a tempestade rugindo e reconheça que não tem poder sobre ela. Mas quando a tempestade se instala em sua mente, é lá que sua verdadeira batalha começa. Afinal, quem governa sua mente, se não você mesmo? Então, aprenda a dançar na chuva, não porque você controla o clima, mas porque aprendeu a governar a si mesmo, a moldar seus pensamentos e sentimentos. Na vastidão do universo, isso é o que realmente é seu.

Agora, deixe-me dizer-lhe algo que esses antigos sábios entendiam bem. Seu valor, meu amigo, não vem da sua conta bancária, do seu emprego chique ou da sua aparência plastificada. Nada disso. O que conta é o seu caráter, a sua virtude. Como disse Epicteto, "O rico não é o que tem muito, mas o que deseja por menos". Realmente adoro essa frase, ela me ajuda a manter os pés no chão e não ser um tolo.

Mas, o que significa ser virtuoso? Bom, isso pode ser resumido em quatro coisas: sabedoria, justiça, coragem e moderação. Entenda o mundo, trate os outros com respeito, tenha coragem para enfrentar os desafios e aprenda a controlar seus desejos. Parece simples, não é?

A virtude não é um manto que se veste para a ocasião, nem uma máscara a ser usada quando os olhos do mundo estão voltados para você. Não, a virtude é uma força bruta, um fogo que queima em suas entranhas, alimentado pelo combustível de suas decisões diárias. É a chama silenciosa que guia seus passos na escuridão, a bússola que aponta para o norte quando você está perdido em uma tempestade. Portanto, não busque ser virtuoso para os outros, mas para si mesmo. Porque, no final das contas, quando o espetáculo da vida se desfaz, é você quem deve conviver com a imagem refletida no espelho.

E o que dizer da morte? Esse espectro onipresente que se esconde nas sombras, sempre aguardando a oportunidade de dar o seu golpe final. Somos ensinados a temê-la, a evitá-la, a ignorá-la. Mas os estoicos, esses antigos sábios com suas barbas desgrenhadas e olhos penetrantes, sabiam de algo que nós esquecemos. A vida e a morte são duas faces da mesma moeda, inseparáveis e igualmente naturais, é a irmã silenciosa que caminha ao nosso lado durante toda a jornada.

Os estóicos utilizavam a expressão "Memento Mori" - um lembrete pungente de nossa mortalidade. Mas não se trata de encarar a morte com um semblante triste e temeroso. Ao contrário, trata-se de dar um tapa na cara da trivialidade, de jogar fora as preocupações frívolas e abraçar a impermanência de nossa existência. Pois é somente ao perceber que nosso tempo aqui é limitado que começamos a tratar cada momento como um tesouro precioso, um fio de ouro no tecido da vida. A vida meu caro, é finita, lembre-se disso quando estiver desperdiçando-a com besteiras.

Sêneca, com sua mente afiada e coração corajoso, disse que não é a duração, mas a qualidade de vida que realmente importa. Afinal, o que adianta viver uma eternidade se cada dia é um eco vazio do anterior? Em vez disso, viva cada dia como se fosse o último, não com medo, mas com a audácia de um estóico. Afundando os dentes na carne suculenta da vida, degustando cada gota de existência com a intensidade de quem sabe que, um dia, o banquete vai acabar. E quando esse dia chegar, olhe a morte nos olhos com um sorriso no rosto e diga: "Eu vivi bem".

Deixe-me lhe contar sobre uma prática que pode transformar esse entendimento da efemeridade da vida em algo concreto, algo que você pode tocar, ler e reler. Já pegou um caderno e uma caneta e tentou despejar seus pensamentos mais profundos lá? Existe algo terapêutico, quase mágico, em ver suas ideias fluírem da ponta da caneta, tornando-se um reflexo tangível de seus pensamentos e sentimentos. Os diários, veja bem, são mais do que um lugar para registrar segredos - eles são uma janela para a alma, uma ferramenta para esculpir sua verdadeira essência, para enfrentar seus próprios demônios e celebrar suas vitórias silenciosas.

Marco Aurélio, o grande imperador-filósofo do Império Romano, certamente via o valor disso. Ele manteve um diário ao longo de sua vida, que hoje conhecemos como 'Meditações'. Ali, ele escreveu: "A felicidade de sua vida depende da qualidade de seus pensamentos". Pense nisso por um momento. Quão profundamente nossas vidas seriam transformadas se tivéssemos um vislumbre mais claro da qualidade de nossos pensamentos? Pense no que você pode descobrir ao ler suas próprias palavras, escritas em um momento de raiva, alegria, tristeza ou êxtase. Pense no que você pode aprender sobre si mesmo.

Então, comece a escrever. Com lápis, caneta, no computador, não importa. Não é escrever para os outros, mas para você. Deixe suas palavras fluírem, deixe que sua alma se revele. Não importa o quão caótico ou incoerente possa parecer no começo, você está construindo um espelho, um instrumento de reflexão e autocompreensão. Você vai se surpreender com a imagem que vai encontrar.

Há, sem dúvida, muito mais a explorar sobre os estoicos e suas maneiras de lidar com a vida, os ciclos de prosperidade e decadência, alegria e tristeza, amor e perda. Poderíamos mergulhar nos oceanos de sabedoria que esses grandes pensadores antigos nos deixaram e ainda assim apenas arranhar a superfície. Poderíamos passar uma vida inteira dissecando seus ensinamentos, aplicando-os em nossas vidas diárias, ajustando e readaptando conforme as marés da vida mudam. Mas, amigo, a verdade é que cada jornada é única, cada caminho é inexplorado até que você dê o primeiro passo. Então, se a minha verborragia o inspirou a buscar o estoicismo, a despejar seus pensamentos no papel ou simplesmente a abraçar a bela imperfeição de sua existência, eu digo: vá em frente. A vida é uma estrada aberta e você é o único motorista. Não importa se você está a pé, de bicicleta, de carro ou de foguete, o que importa é o movimento, o progresso constante em direção ao desconhecido. Assim, enquanto você faz a sua jornada, lembre-se das palavras desses antigos sábios. Enfrente a tempestade com coragem, dance na chuva com alegria, saboreie a vida com todas as suas nuances e sabores. E quando o cansaço o atingir, quando a estrada parecer longa demais, lembre-se: a jornada é tudo. Aproveite cada passo, cada tropeço, cada subida íngreme e descida suave. Aproveite a jornada, meu amigo. Aproveite a jornada!